terça-feira, dezembro 20, 2005

Um soneto aos 17 anos - 1964

O ano de 1964 corria ao ritmo da minha juventude, da minha situação de estudante universitário, por esse facto afastado de casa dos meus pais por longos períodos, ao ritmo das alternâncias das emoções próprias da idade e das circunstâncias da minha vida. Nasci em Viseu, mas vivi no Porto desde esse momento até aos 8 anos de idade. Aos dezasseis anos voltei para o Porto, sozinho, já que em Viseu não havia qualquer Escola Superior ou Média (para além do "Magistério Primário" com o qual eu embirrei logo à partida não sendo, por isso, uma opção de estudo para mim).
A verdade é que, precisamente nestas circunstâncias, ia eu de férias para Viseu - Natal, Carnaval, Páscoa e férias grandes - acabei por me encher de coragem e pedi namoro a uma moça da minha idade, julgava eu que estava apaixonado. Talvez estivesse, de certo modo. Vai daí enchi-me de brios, entusiasmei-me e escrevi-lhe um soneto, ao fim de um mês de intensa labuta. Decepcionante foi o facto de a Helena nunca ter acreditado que eu o tivesse escrito. No juízo dela plagiei-o...O nosso namoro não durou muito, dois anos, talvez, grande parte do qual por carta.
Paz à sua alma, que, entretanto, já não pertence ao mundo dos vivos... há muito...

In memoriam Helena

Quando de entre as nuvens
A lua aparece no firmamento
Acolitada por mil silfos volúveis
Com graça passeias no meu pensamento.

Ao contemplar a luz da lua
Sinto em mim um doce enlevo
Pois a comparo com a imagem tua
Que a todas as outras sobrelevo

Porque tu és a razão do meu viver
O vento vagabundo
Que despertou meu ser

E m´inspirou esta grande paixão
Q´imensa como o mar profundo
Alcançou enfim meu coração.


41 anos são passados...